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Igreja com público LGBT terá sede em Salvador – Evangélicos divergem sobre doutrina


Do Aratu Online, parceiro do Simões Filho Online

A incompatibilidade entre grupos evangélicos e a comunidade LGBT tem sido pauta recorrente em episódios envolvendo intolerância por parte de líderes religiosos e contra-ataque de ativistas gays. Na contramão desta disputa, um casal de pastores resolveu criar, em 2006, a Igreja Contemporânea. O local escolhido foi o terceiro andar de um sobrado na Lapa, região central do Rio de Janeiro, onde, naquela época, a tensão e medo da violência andavam lado a lado com a fé.

Os pastores Marcos Gladstone e Fábio Inácio são casados há 10 anos e pais de três filhos adotados. A ideia deles foi criar uma igreja que aceitasse a entrada de gays, lésbicas, transsexuais e travestis. “A gente começou de forma bem simples, sem pretensão nenhuma de deixar a coisa grandiosa como está hoje. Aos poucos as pessoas foram chegando e hoje somos 3 mil membros espalhados pelo Brasil”, contou Marcos, enquanto cuidava da filha de pouco mais de 1 ano, em entrevista exclusiva ao Aratu Online, parceiro do Simões Filho Online.

O pastor ressalta que a ideia é uma igreja para todos, mas com foco no público LGTB. E ele revela o porquê desta opção. “Eles chegam aqui muito tristes, com questionamentos sobre aceitação. A gente teve a ideia de abraçar um público abrangente para acolher pessoas que não acham espaço em ambientes sectários”, diz.

Com seis sedes no Rio de Janeiro, duas em São Paulo e duas em Mina Gerais, a Igreja Contemporânea pretende avançar por outras cidades brasileiras. Dentre os locais escolhidos está Salvador, que já recebe, mensalmente, há dois anos os cultos do grupo.

“Todos os estados do Brasil pedem uma Igreja Contemporânea. Em Salvador, a gente está procurando um espaço pelo centro, onde fizemos um culto no último domingo, na Associação de Funcionários Públicos do Estado da Bahia, na Rua Carlos Gomes”, contou.

ACEITAÇÃO

O estudante de enfermagem, Davi Jesa, de 24 anos, revela que passou por diversas religiões na adolescência, período dos 12 aos 16 anos, e encontrou na igreja evangélica a resposta para vários questionamentos. Ele, que sentia a falta de uma figura masculina na sua vida, viu ali esse desejo ser preenchido. No entanto, quando se tornou maior de idade, tendo acesso a outros conceitos e estilos de vida, se percebeu gay, e foi aí que surgiram as interrogações.

Camisas expostas durante culto da Igreja Contemporânea

Segundo ele, nas igrejas, muitos jovem se reconhecem como homossexuais, mas tem sua orientação sexual silenciada pelos padrões estabelecidos dentro dos códigos de ética e moral do bom cristão. “A gente é doutrinado a se perceber gay, mas não praticar a homossexualidade, evitando ter relações com pessoas do mesmo sexo por conta do pecado. Assim como eu, existem muitos que até hoje não falam do assunto pelo tabu que cerca este tema”, explica.

Davi revela, ainda, que é possível perceber comportamentos homofóbicos com aqueles que fogem da regra e evidenciam a homossexualidade. Com isso, o tratamento torna-se semelhante a uma ajuda. “A homofobia é um reflexo de tratamento e muita gente que está na igreja tem esse comportamento. Não precisa bater ou espancar, basta ter aversão a existência do outro que é diferente. A ideia que eles passam é que você está passando é um problema e precisa ser ajudado”, diz.

Atualmente, Davi frequenta o candomblé, e lá, segundo ele, existe essa liberdade sexual. “Você passa muito tempo para escolher uma religião, no candomblé você já é, só precisa aceitar”, conclui.

NOVA IGREJA

Música, vídeos, pregações fazem parte dos cultos da Igreja Contemporânea, assim como em outras religiões. A única diferença, segundo o pastor Marcos, é na forma de tratar o próximo. “O culto é parecido como em outras igrejas, mas a gente só acolhe todas pessoas assim como Jesus fez. Temos igrejas em TV, rádio e vários outros meios de comunicação, mas esse grupo não é atendido”.

O pastor faz questão de usar um verso bíblico para comprovar que a palavra de Deus não condena as relações homoafetivas. Para ele, houve uma mudança de termos em algumas traduções, e isso acabou causando uma confusão. “Lá em primeiro coríntios diz que os perversos não herdarão o Reino de Deus. Nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos”, disse ele enfatizando que essa passagem foi alterada na tradução.

O casal de jovens da Igreja Adventista do Sétimo Dia, Jessica Lopes, de 25 anos, e Luã Almeida, de 27 anos, que são pais de dois filhos homens, reconhece a importância de acolher o público LGBT, mas diverge opiniões em alguns posicionamentos. Para ela, essa iniciativa pode livrar muitas pessoas da depressão e solidão na qual são condicionadas pela orientação sexual.

“Acho a ideia muita boa, pois muita gente até comente suicídio por falta de apoio familiar. É necessário que tenha mais amor dentro do cristianismo, independente de doutrina. As pessoas merecem ser bem tratadas seja ela gay ou não”.

Já Luã acredita que essa novidade pode gerar um conflito maior entre as religiões que pregam o contrário. Segundo ele, o problema não é igreja A ou B, mas sim os padrões que elas seguem e ensinam aos fieis.

“Eu tenho medo que os meus filhos cresçam achando que ser gay é normal. A gente foi criado dentro dos padrões da sociedade e sabemos que não é correto perante a vontade de Deus”, disse convicto. um parcela dos gays que querem viver na tranquilidade, com uma família e filhos.

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