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Brasil Profundo: vereador é suspeito de contratar grupo para assassinar radialista

Foto: Angelina Nunes/Abraji

O vereador Cesar Monteiro (PR), 45 anos, é suspeito de ter contratado um grupo para matar o radialista Jairo de Sousa, 43 anos, assassinado na madrugada do dia 21 de junho na cidade de Bragança, no Pará. Até agora a polícia prendeu sete pessoas e outras duas estão foragidas, entre elas o vereador.

Segundo a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) apurou, Monteiro está em Belém desde o último domingo (18/11) planejando com advogados sua apresentação na delegacia. As investigações apontam para a motivação do crime como uma forma de impedir as denúncias diárias apresentadas no programa de Sousa contra a administração pública da cidade e de outros municípios vizinhos.

A morte de Jairo é o segundo caso investigado pela equipe da Abraji dentro do Programa Tim Lopes. O primeiro foi o de Jefferson Pureza, 39 anos, em Edealina, no interior de Goiás, executado com três tiros na cabeça enquanto descansava na varanda de sua casa, em 17 de janeiro de 2018. Seis pessoas estão detidas.

Os dois casos mostram uma realidade do chamado Brasil Profundo, onde o trabalho de comunicadores encontra-se sob risco, na medida em que aumentam o tom das denúncias contra as autoridades locais.

O Programa Tim Lopes foi desenvolvido pela Abraji para combater a violência contra jornalistas e a impunidade dos responsáveis. Em caso de crimes ligados ao exercício da profissão, uma rede de veículos da mídia tradicional e independente é acionada para acompanhar as investigações e publicar reportagens sobre as denúncias em que o jornalista trabalhava até ser morto. Integram a rede hoje: Agência Pública, Correio (BA), O Globo, Poder 360, Ponte Jornalismo, Projeto Colabora, TV Aratu, TV Globo e Veja.

O grupo suspeito de assassinar o radialista de Bragança é investigado por atuar no interior do Pará com pistolagem, morte por encomenda. As investigações indicam que o vereador teria negociado o assassinato de Jairo com José Roberto Costa de Sousa, 48 anos, conhecido como Calar, apontado como chefe do grupo e preso no dia 12 de novembro na cidade de Castanhal, a 138 quilômetros de Bragança.

No último dia 15, os policiais localizaram Dione Sousa Almeida, 29 anos, acusado de atirar no radialista, em uma casa na cidade de Cachoeira de Piriá, a 132 quilômetros de Bragança e a 180 quilômetros de Castanhal.

No dia 16, foi deflagrada a Operação Pérola – alusão ao programa de rádio Show da Pérola, apresentado por Jairo -, com pedido de nove prisões temporárias e quatro mandados de busca e apreensão. Sob a coordenação da Divisão de Homicídios, mais de 50 policiais participaram das buscas que tiveram apoio da Divisão de Repressão do Crime Organizado, da Superintendência da Região do Caeté e da Polícia Civil de Bragança. O vereador escapou de ser preso por ter ido a uma festa e dormido fora de casa.

Radialista foi morto antes de entrar pela porta da rádio. Foto: Rafael Oliveira/Abraji

Segundo o delegado Dauriedson Bentes da Silva, foram transferidos para Belém Jadson Guilherme Reis de Sousa, 22 anos, filho de José Roberto Costa de Sousa; Octacílio Antonio da Silva, 53 anos; Moisaniel Sousa da Silva, 50 anos, que seria o armeiro do grupo; e Jedson Miranda da Silva, 22 anos, filho de Moisaniel.

O sétimo acusado, Edvaldo Meireles da Silva, já estava preso respondendo por outro homicídio. Além do vereador Cesar Monteiro, está foragido Madson de Melo.

Na noite do dia 16, a pouco mais de 10 quilômetros de Bragança, algumas pessoas da comunidade de Parada Bom Jesus, incendiaram o carro e a casa onde morava Octacílio, um dos presos na operação. De acordo com policiais, o incêndio teria sido provocado por dois homens não identificados que estavam em uma moto.

Segundo a investigação, depois de ter sido contratado pelo vereador, o grupo organizou duas emboscadas para surpreender o radialista. Jairo de Sousa frequentemente saía da rádio às 9h e seguia para a localidade de Montenegro, onde almoçava com a ex-mulher Cristina de Sousa e seus filhos.

O grupo organizou a tocaia naquele local, durante duas noites, entre 20h e 5h. Sem sucesso e desconhecendo o endereço do radialista em Bragança, onde vivia com sua mulher à época, os bandidos resolveram praticar o crime quando ele estivesse chegando à rádio, no centro da cidade.

A sede da rádio funciona em um prédio comercial. Foto: Rafael Oliveira/Abraji

O grupo usou dois carros no dia do assassinato. Sousa foi morto com dois tiros, quando subia a escada que dava acesso à rádio. Há 12 anos, usava colete à prova de balas devido às ameaças recebidas ao longo da carreira, em emissoras de municípios vizinhos e em Bragança. Naquela madrugada, estava sem o colete.

Durante a Operação Pérola, foram apreendidos documentos nas sedes das empresas Terra Forte Terraplanagem e Terra Forte Construção e Serviço, que pertencem a Yann Victor Monteiro Leite e Odivaldo de Lima Leite Filho, conhecido como Dinho. Os dois são sobrinhos do vereador Cesar Monteiro.

Em Edealina, no caso do assassinato de Jefferson Pureza, o vereador José Eduardo Alves da Silva (PR), acusado de ser o mandante, e outros dois homens que participaram da negociação do crime, aguardam julgamento. Três menores cumprem medidas socioeducativas: um atirou, o outro pilotou a moto e o terceiro recrutou os demais para a realização do crime, que custou R$ 5 mil mais um revólver 38.

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